"Pomba Gira não tem, nunca teve e jamais terá qualquer relação com promiscuidade ou algo parecido." Rodrigo Queiroz



O MISTÉRIO POMBA GIRA por Rubens Saraceni

O mistério Pomba-Gira é regido por uma divindade cósmica que tanto gera quanto irradia o fator desejo.

Saibam que esses fatores, vigor (Exu) e desejo (Pomba-Gira), se completam e criam as condições ideais para que a Umbanda tenham seus recursos mágicos e cármicos, também eles, atuando através de linhas de força horizontais ou inclinadas, e dispensa a ativação direta dos Tronos Cósmicos ou dos aspectos negativos dos regentes das linhas de Umbanda.

Nem Exu natural nem Pomba-Gira Natural seguem a mesma linha de direção evolutiva dos espíritos, pois eles seguem outra orientação e direcionamento.

É um ser cuja presença desperta o desejo, porque é irradiadora natural desse fator divino. Só que esse fator não se limita ao sexo, e destina-se a todos os sentidos da vida, pois só desejando, um ser empreende alguma coisa ou toma alguma iniciativa em algum sentido. Portanto, o desejo, é um fator divino fundamental em nossa vida, pois nós o absorvemos por todos os setes chacras principais e também pelos secundários.

O desejo só existe porque Deus assim quis e ele não se manifesta só através do sexo, pois sentimos o desejo de aprender, de viajar, de conversar, de nos divertir, de comer determinado alimento ou de vestir determinada roupa, etc.

O mistério Pomba-Gira se manifesta na Umbanda através de seres naturais ou de espíritos incorporados às suas hierarquias ativas (FALANGES), pois são elementos mágicos que podem ser ativados por qualquer pessoa, desde que o faça dentro de um ritual codificado como correto pelo Ritual de Umbanda Sagrada, assim como são agentes cármicas, pois podem ser ativadas pela Lei Maior.

O mistério Pomba-Gira é em si neutro, e pode ser ativada com oferenda ritual, pois é elemento mágico, assim como pode ser ativada pela Lei Maior porque é agente cármica, esgotadora de emocionais apassionados ou despertadora de desejo em seres apáticos.

Entendam que Deus criou tudo, também gerou o desejo como uma de suas qualidades ou fatores, pois sem vibrarmos o desejo, nada desejaremos e nos tornaremos apáticos, desinteressados e nos paralisaremos.

Logo, Deus, que tudo sabe, cuidou deste aspecto de nossa vida e gerou o desejo como um de seus fatores, assim como gerou uma divindade cósmica que tanto o gera como o irradia a tudo e a todos.

Essa divindade de Deus também formou sua hierarquia divina, que chega até nós no nosso nível terra como as exuberantes Pomba-Giras, que são regidas por um Trono Cósmico Feminino cujo nome mântrico é MA-HOR-IIM-YÊ, OU MAHÓR YÊ, SENHORA GUARDIÃ DOS MISTÉRIOS DO DESEJO, que polariza horizontalmente com o Trono Cósmico Guardião dos Mistérios do Vigor.

Logo Pomba-Gira polariza com Exu. E o desejo, unindo-se com o vigor, cria nos seres as condições ideais que os ativarão em todos os sentidos e os induzirão a assumir com vigor e paixão as empreitadas mais temerárias.

Mas, caso sejam ativados e usados indevidamente, ai perdem suas grandezas e se tornam paixões devastadoras e vigores atormentadores para quem der uso a eles, pois são em si mistérios, e, como tal, voltam-se contra quem lhes der mau uso. Aí subjugam essa pessoa, induzem-na aos maiores destinos e aberrações até lançá-la num tormento alucinante, delirante e bestificante, cuja finalidade é levá-la à loucura em todos os sentidos.

Saibam que muitas pessoas que abandonaram a Umbanda e o Candomblé e, todos confusos, atrapalhados e perseguidos por hordas de espíritos obsessores, estão entre as que achavam que Pomba-Gira e Exu eram seus escravos e os atenderiam inconseqüentemente. Mas como começaram a pagar o preço ainda aqui, correram para o abrigo das seitas salvacionistas, e dali se voltam contra estes mistérios cósmicos, acusando-os de “demônios”.

Pomba-Gira não se auto ativa contra ninguém, ou alguém a ativa ou isso quem faz é a Lei Maior.

E tanto pode ser ativada para ajudar quanto para esgotar o desejo em todos os sentidos da vida de uma pessoa, quanto só num sentido onde está se excedendo e se desviando de sua evolução reta e contínua.





POMBA GIRA NA UMBANDA

Nos cultos tradicionais oriundos da Nigéria não havia a entidade Pombagira ou um Orixá que a fundamentasse. Mas, quando da vinda dos nigerianos para o Brasil (isto por volta de 1800), estes aqui encontram-se com outros povos e culturas religiosas e assimilam a poderosa Bombogira angolana que, muito rapidamente, conquistou o respeito dos adoradores dos Orixás. Com o passar do tempo a formosa e provocativa Bombogira conquistou um grau análogo ao de Exu e muitos passaram a chamá-la de Exu Feminino ou de mulher dele. Mas ela, marota e astuta como só ela é, foi logo dizendo que era mulher de sete exus, uma para cada dia da semana, e, com isso, garantiu sua condição de superioridade e de independência. Na verdade, num tempo em que as mulheres eram tratadas como inferiores aos homens e eram vítimas de maus tratos por parte dos seus companheiros, que só as queriam para lavar, passar, cozinhar e cuidar dos filhos, eis que uma entidade feminina baixava e extravasava o ‘eu interior’ feminino reprimido à força e dava vazão à sensualidade e à feminilidade subjugadoras do machismo, até dos mais inveterados machistas. Pombagira foi logo no início de sua incorporação dizendo ao que viera e construiu um arquétipo forte, poderoso e subjugador do machismo ostentado por Exu e por todos os homens, vaidosos de sua força e poder sobre as mulheres.
Pombagira construiu o arquétipo da mulher livre das convenções sociais, liberal e liberada, exibicionista e provocante, insinuante e desbocada, sensual e libidinosa, quebrando todas as convenções que ensinavam que todos os espíritos tinham que ser certinhos e incorporarem de forma sisuda, respeitável e aceitável pelas pessoas e por membros de uma sociedade repressora da feminilidade. Ela foi logo se apresentando como a “moça” da rua, apreciadora de um bom champagne e de uma saborosa cigarrilha, de batom e de lenços vermelhos provocantes.
Escrachada e provocativa, ela mexeu com o imaginário popular e muitos a associaram à mulher da rua, à rameirao oferecida, e ela não só não foi contra essa associação como até confirmou:“É isso mesmo”!
E todos se quedaram diante dela, de sua beleza, feminilidade e liberalidade, e como que encantados por sua força, conseguiram abrir-lhe o íntimo e confessarem-lhe que eram infelizes porque não tinham coragem de ser como elas.
Aí punham para fora seus recalques, suas frustrações, suas mágoas, tristezas e ressentimentos com os do sexo oposto. E a todos ela ouviu com compreensão e a ninguém negou seus conselhos e sua ajuda num campo que domina como ninguém mais é capaz.
Sua desenvoltura e seu poder fascinam até os mais introvertidos que, diante dela, se abrem e confessam suas necessidades.
Quem não iria admirar e amar arquétipo tão humano e tão liberalizado de sentimentos reprimidos à custa de muito sofrimento?
Pombagira é isto. É um dos mistérios do nosso divino criador que rege sobre a sexualidade feminina. Critiquem-na os que se sentirem ofendidos com seu poderoso charme e poder de fascinação.
Amem-na e respeitem-na os que entendem que o arquétipo é liberador da feminilidade tão reprimida na nossa sociedade patriarcal onde a mulher é vista e tida para a cama e a mesa.
Mas ela foi logo dizendo: “Cama, só para o meu deleite e mesa, só se for regada a muito champagne e dos bons!
Com isso feito, críticas contrárias à parte, o fato é que o arquétipo se impôs e muita gente já foi auxiliada pelas “Moças da Rua”, as companheiras de Exu.
A espiritualidade superior que arquitetou a Umbanda sinalizou à todos que não estava fechada para ninguém e que, tal como Cristo havia feito, também acolheria a mulher infiel, mal amada, frustrada e decepcionada com o sexo oposto e não encobriria com uma suposta religiosidade a hipocrisia das pessoas que, “por baixo dos panos”, o que gostam mesmo é de tudo o que a Pombagira representa com seu poderoso arquétipo.
Aos hipócritas e aos falsos puritanos, pombagira mostra-lhes que, no íntimo, ela é a mulher de seus sonhos… ou pesadelos, provocando-o e desmascarando seu falso moralismo, seu pudor e seu constrangimento diante de algo que o assusta e o ameaça em sua posição de dominador.
Esse arquétipo forte e poderoso já pôs por terra muito falso moralismo, libertando muitas pessoas que, se Freud tivesse conhecido, não teria sido tão atormentado com suas descobertas sobre a personalidade oculta dos seres humanos.
Mas para azar dele e sorte nossa, a Umbanda tem nas suas Pombagiras, ótimas psicólogas que, logo de cara, vão dando o diagnóstico e receitando os procedimentos para a cura das repressões e depressões íntimas.
Afinal, em se tratando de coisas íntimas e de intimidades, nesse campo ela é mestra e tem muito a nos ensinar.
Seus nomes, quando se apresentam, são simbólicos ou alusivos.
*Pombagira das Sete Encruzilhadas;
* Pombagira das Sete Praias;
* Pombagira das Sete Coroas;
* Pombagira das Sete Saias;
* Pombagira Dama da Noite;
* Pombagira Maria Molambo;
* Pombagira Maria Padilha;
* Pombagira das Almas;
* Pombagira dos Sete Véus;
* Pombagira Cigana; etc.
O simbolismo é típico da Umbanda porque na África, ele não existia .É o espírito que “baixa” em seu médium e, entre um gole de champagne e uma baforada de cigarrilha, orienta e ajuda a todos os que as respeitam e as amam, confiando-lhes seus segredos e suas necessidades. São ótimas psicólogas. E que psicólogas!

“Salve as Moças da Rua”!


PALESTRA DE RODRIGO QUEIROZ

FALANGES DE POMBAGIRAS

As entidades espirituais que trabalham como pombas giras dividem-se em falanges seguindo um hierarquia rigorosa. As muitas falanges, formam a legião das pombas giras. As denominações dessas falanges indicam seu campo de trabalho e os nomes adotados pelos espíritos pertencentes às mesmas são simbólicos.A entidade que incorpora na médium Maria pode ou não ser a mesma entidade que incorpora na médium Lara. O mais comum é que não seja. Quando o médium é ativo, a entidade trabalha quase que exclusivamente com ele, a nível de incorporação, mas pode comunicar-se por outras formas mediúnicas, com qualquer pessoa.Por exemplo, a pombagira mais facilmente lembrada, costuma ser Dona Maria Padilha, que incorpora em centenas de médiuns, em centenas de terreiros e ao mesmo tempo.O que ocorre é que centenas de espíritos pertencentes à falange de dona Maria Padilha, recorrem a denominação da chefe da falange, mas são seres com identidades individuais, obedecendo a um padrão vibratório comum. Existe ainda subdivisões, por exemplo: falange maria padilha: maria padilha das almas (já é uma divisão da falange maria padilha. Mas existem centenas de espíritos que usam a denominação maria padilha das almas.Pombagiras não gostam da denominação exu-fêmea, são pombagiras e ponto. Seria o mesmo que genericamente nos referirmos ao Sexo feminino como homem-fêmea. Mulher é mulher e pombagira é Pombagira como homem é homem e exu é exu.Como guardiãs fazem todo e qualquer trabalho realizado por Exus. Como espíritos de mulheres que tiveram experiências em suas encarnações na vivência da sensibilidade do feminino, naturalmente conservam, após o desencarne as característicasPeculiares ao universo feminino ( o emocional, o passivo, o negativo, o yin - como contrapontos e complementos do universo lógico, ativo, positivo e yang masculino). Nesse sentido não são mais ou menos que qualquer exu. Trabalham em parceria e completude, são bem melhor resolvidos que nós encarnados, com nossas picuinhas e disputas de poder.Gostam e precisam da companhia um do outro. E como são espíritos ainda muito próximos das paixões humanas, também têm suas preferências, simpatias e afinidades. Embora essas inclinações não sejam impedimentos cabais para a realização de tarefas solicitadas pelas hierarquias. Ambos estão em busca de evolução. As ações dos exus e das pombagiras estão presentes em quase tudo o que ocorre em nosso planeta. A influência positiva ou negativa do mundo espiritual em nosso cotidiano é bastante significativa, embora não aceita ou negligenciada pela maioria. Ainda bem que sempre podemos contar com a boa influência e proteção das nossas amigas guardiãs. Algumas dessas entidades trabalham como protetoras de uma pessoa especificamente, outras trabalham em conjunto na segurança de templos religiosos, hospitais, estabelecimentos, organizações etc.
Mas a prestação da assistência que realizam está subordinada a hierarquia imediata à qual pertencem. E esta por sua vez está também subordinada a uma outra hierarquia de espíritos mais evoluídos, e assim por diante.Por isso ficamos confusos com tantas linhas, falanges e subfalanges. Sem ordem, organização, planejamento e controle seria inviável a nossa existência.

Laroiê pombagiras!
AUTORIA CLAUDIA BAIBICH - FONTE: http://pombagiras.blogspot.com/